LIBERTAÇÃO DE LINCE-IBÉRICO EM PORTUGAL 2020

2020-03-06

Quinde e Quisquilla, um macho e uma fêmea de lince-ibérico, provenientes do Centro de Reprodução em Cativeiro de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia), serão libertados a 6 de março de 2020, pelas 10h30, na freguesia de Corte Gafo (Mértola), na área de reintrodução de lince ibérico, do Vale do Guadiana. 

Os linces foram previamente submetidos a controlo sanitário no Centro de Reprodução onde nasceram, foram-lhes colocadas coleiras emissoras e serão subsequentemente monitorizados pela equipa sediada em Mértola, constituída por Técnicos e Vigilantes da Natureza do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

O ano de 2019 culminou com a celebração do 10.º aniversário do CNRLI – Centro Nacional de Reprodução, em Cativeiro, de Lince-Ibérico. Foi no dia 26 de outubro de 2009 que o CNRLI recebeu o seu primeiro lince, a Azahar, que hoje se encontra no Jardim Zoológico de Lisboa.

Este Centro de Reprodução, gerido pelo ICNF através de um contrato de comodato, é propriedade da empresa Águas do Algarve, SA e tem, por via das medidas de sobrecompensação da construção da Barragem de Odelouca, compromissos financeiros atribuídos que permitem o seu funcionamento até 2025. Com a entrada em funcionamento deste Centro, Portugal passou a contribuir ativamente para o Programa de Conservação Ex Situ e para os esforços de recuperação das populações em liberdade, através da reprodução em cativeiro, preparação e solta de exemplares destinados à reintrodução.

Durante estes 10 anos nasceram 122 animais no CNRLI, dos quais 89 sobreviveram (73 %) e, destes, 73 foram já reintroduzidos em meio natural (no Vale do Guadiana, Mértola e Serpa – Portugal, e em Espanha, na Andaluzia, Extremadura e Castilla-La Mancha). Dos animais que não foram reintroduzidos, 7 foram integrados no programa de cria em cativeiro como reprodutores, e os restantes – não podendo ser libertados nem incluídos no programa de cria por problemas genéticos – foram encaminhados para Zoos ou encontram-se aguardando a sua colocação em Zoos ou Parques Zoológicos de visitação. Prevê-se o primeiro parto de 2020, em cativeiro em Portugal, para o início de março.

No seu habitat natural, 2019 foi também particularmente favorável ao lince em Portugal, com o nascimento de 46 crias em liberdade e o estabelecimento de territórios ocupados por 13 fêmeas reprodutoras. Com estes territórios já estabilizados, o Vale do Guadiana, com um núcleo populacional em franco crescimento, tornou-se uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico. Em 2 de fevereiro de 2020, perfizeram-se 5 anos sobre o início da reintrodução do lince-ibérico em Portugal, um processo com o objetivo a longo prazo de restabelecer os ecossistemas mediterrânicos e valorizar os territórios, que tem contado com um forte envolvimento multidisciplinar e uma proveitosa cooperação técnica e política entre os dois Estados ibéricos.

Atualmente existem em liberdade um total de 107 linces em Portugal e de aproximadamente 800 na Península Ibérica, numa população que ainda é constituída maioritariamente por linces jovens (entre 1 a 3 anos).

Esta situação positiva tem sido possível graças à adesão de proprietários de herdades e gestores de zonas de caça, a uma gestão sustentável do território, à abundância de coelho-bravo e a uma atitude favorável por parte da população local à presença do lince e tem sido naturalmente favorecida através da conectividade entre a população de linces do Vale do Guadiana com as existentes em outras áreas de Espanha, fundamental para o incremento da variabilidade genética.

Em 2020 está a decorrer uma nova candidatura ibérica ao programa LIFE da União Europeia – projeto LynxConnect - que permitirá consolidar e prosseguir os objetivos da reintrodução e da presença de lince como espécie de topo e fator promotor de equilíbrio e valorização dos ecossistemas mediterrânicos.

Pelas 12h está prevista a inauguração do Centro de Interpretação e Observatório do Lince-Ibérico, em São João dos Caldeireiros, inserido no projeto “Por Terras do Lince-Ibérico”, promovido pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM). Este observatório constitui uma estrutura de apoio ao visitante, que pretende disponibilizar informação sobre a espécie, assim como visa recomendar atitudes e comportamentos aos visitantes, compatíveis com uma observação responsável e sustentável.