O coelho-bravo, principal presa do lince ibérico, é uma espécie originária da Península Ibérica. Espécie chave dos ecossistemas mediterrânicos, constitui presa preferencial para um vasto conjunto de predadores, alguns dos quais se especializaram na sua captura, quase dependendo em exclusivo desta espécie para sobreviver. Consequentemente, qualquer estratégia de recuperação destes predadores passa necessariamente pela recuperação das suas populações presa, no caso, o coelho-bravo.
Importa ainda realçar que esta espécie é igualmente estratégica no quadro cinegético da Península, constituindo um suporte tradicional do esforço de caça nacional, absorvendo a atenção cinegética da maioria dos caçadores portugueses. Assim, a gestão das populações de coelho-bravo, assume importância estratégica no âmbito do usufruto sustentado deste recurso, procurando que os seus níveis populacionais garantam simultaneamente quantitativos cinegéticos num quadro de um aproveitamento multifuncional de uma propriedade, sem comprometer os equilíbrios ecológicos existentes ou ainda terem um contributo decisivo na recuperação dos predadores especializados na sua captura, como seja o lince ibérico.
Com o surgimento de duas epizootias graves, a mixomatose nos anos 50 e a doença hemorrágica viral, a partir de 1980, estas populações sofreram declínios de tal modo importantes, estimados em cerca de 80% da sua população original, que comprometeram quer a sua exploração sustentada quer os programas de conservação em curso, como seja a recuperação do lince ibérico na península. Esta diminuição populacional do coelho-bravo obrigou a uma reavaliação das estratégias de conservação do lince, sendo admissível a sua reintrodução apenas em áreas que apresentem em média mais de 2 coelhos/ha, onde será também implementado um vasto programa de recuperação das suas populações, que passa pela eliminação dos fatores limitantes mais importantes, através da gestão dos matos, da instalação de culturas anuais para alimentação ou da instalação de abrigos artificiais.
Complementarmente, em casos justificados e apenas nos casos de ocorrência de populações bastante rarefeitas de coelho-bravo, são admissíveis campanhas de repovoamento com indivíduos certificados a nível sanitário e genético da sub-espécie Oryctolagus cuniculus algirus, tudo isto enquadrado com campanhas sistemáticas de avaliação das densidades populacionais desta espécie, para determinar a eficácia das ações realizadas ou da necessidade de promover outras de emergência, assunto relevante se já ocorrerem linces naqueles territórios.
CENSOS
Realizam-se sazonalmente censos de coelho-bravo que permitem monitorizar a disponibilidade desta presa principal e que condiciona o estabelecimento de território nas fêmeas de lince-ibérico. Estes censos, realizados por contagem direta de indivíduos e de latrinas, são coordenados pelo ICNF e conta com a colaboração de outras entidades tais como a Iberlinx - Associação para a Conservação do Lince-ibérico e projetos como da Conservação da Águia-imperial-ibérica em Portugal.
ICNF © - Estabelecimento de transetos para contagem de latrinas
ICNF © - Técnico e Vigilante da Natureza - contagem de latrinas
A partir da contagem de latrinas em transetos calcula-se um índice de abundância de coelho-bravo que depois se converte em densidades.
SUMÁRIO EXECUTIVO: O relatório "Censos de coelho-bravo na Serra da Malcata" descreve os resultados obtidos durante os censos de coelho-bravo na Serra da Malcata efetuados em 2012.
Dando seguimento a um processo de monitorização contínua iniciado em 1997, os trabalhos realizados durante 2012 tiveram o seu enquadramento no projeto LIFE IBERLINCE e foram executados com uma nova metodologia desenvolvida para avaliar a presença de coelho em áreas potenciais de reintrodução de lince. (...)
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U.A.: 2017-05-1