Em Portugal, a reintrodução de lince-ibérico iniciou-se em 2015 na área do vale do Guadiana, concelho de Mértola. Desde há 20 anos que o ICNF, I. P., conjuntamente com parceiros, vinha desenvolvendo estudos e projetos de recuperação para a espécie.
Para selecionar a área mais apta para o futuro estabelecimento de uma população viável de lince-ibérico, previamente realizaram-se censos de coelho-bravo, foi feita uma avaliação das zonas de matagal e coberto arbóreo, um levantamento das ocorrências de armadilhas ilegais e risco de atropelamento. Levou-se também a cabo uma auscultação de opinião a atores locais.
No concelho de Mértola foi possível estabelecer acordos com proprietários em áreas com elevada densidade de coelho-bravo e foi onde se construiu um cercado de adaptação para os primeiros animais vindos de cativeiro. O lince-ibérico é uma espécie-chapéu, pelo que a sua conservação beneficia muitas outras espécies e os territórios.
Entre 2015 e 2017 foram libertados 27 animais no vale do Guadiana. Desde 2016 que há reprodução na natureza e a maioria dos animais apresenta território estável.
Acompanhar a reintrodução significa monitorizar os linces por rádio seguimento, foto-armadilhagem, análises genéticas, acompanhar o estado sanitário dos animais, as fêmeas em gestação e a abundância de coelho-bravo nas áreas de ocorrência. O envolvimento de parceiros e potenciar iniciativas nos territórios é parte essencial do sucesso desta reintrodução.
Uma reintrodução é uma tentativa de estabelecer uma população selvagem viável de uma dada espécie, numa determinada área geográfica que já foi parte da sua distribuição histórica, mas onde esta espécie foi extinta.
As reintroduções têm sido utilizadas como ferramentas de conservação de espécies, como o lince-ibérico cuja situação na natureza é muito crítica, recorrendo a animais nascidos em cativeiro. O sucesso destas ações depende, porém, do cumprimento de vários requisitos, tais como o desaparecimento das causas anteriores de extinção da espécie (ex. furtivismo), a existência de qualidade do habitat numa área suficiente para albergar uma população, a manutenção em cativeiro de animais fundadores e adequadamente treinados para sobreviver na natureza. A reintrodução de uma espécie requer sempre uma abordagem multidisciplinar em que vários aspetos são considerados, nomeadamente a aceitação social da espécie na região em causa.
No caso do lince-ibérico existe uma boa produção de animais em cativeiro e foram estabelecidos cientificamente os devidos protocolos para preparar os animais e a forma como são reintroduzidos na natureza. As primeiras ações foram programadas para a Andaluzia em 2010 onde existia ainda uma população original de lince-ibérico e se têm realizado importantes ações de gestão do habitat e de presas. Em Portugal foi selecionada a área do vale do Guadiana e poderão vir a ser escolhidas outras áreas de reintrodução. Em Portugal, e na Península Ibérica, a conservação do lince-ibérico depende, sobretudo da gestão e recuperação do seu habitat, pois a existência de uma população de lince-ibérico em cativeiro não é, só por si, a solução para a subsistência da espécie.