PRIMEIRA COLHEITA DE EMBRIÕES REALIZADA COM SUCESSO NO CNRLI

PRIMEIRA COLHEITA DE EMBRIÕES REALIZADA COM SUCESSO NO CNRLI ®ICNF / CNRLI - Rodrigo Serra

2013-03-15

Avanço nas técnicas de reprodução assistida do lince-ibérico atingido no CNRLI: primeira colheita de embriões realizada com sucesso!


Azahar, fêmea de 9 anos proveniente de umas das últimas populações selvagens de lince-ibérico existentes na Península Ibérica, chegou ao CNRLI em outubro de 2009. Integrada como fundadora no Programa de Conservação Ex Situ do Lince Ibérico em janeiro de 2005, chegou ao CNRLI com 6 anos e com duas temporadas reprodutivas consecutivas sem atingir qualquer gestação noutros centros de reprodução do Programa. Azahar foi o primeiro lince-ibérico a chegar a Portugal proveniente de Espanha no contexto do programa de reprodução em cativeiro da espécie, e o primeiro lince-ibérico a ser observado de forma comprovada no país desde o início da década de 90 do século XX.

O primeiro parto da Azahar deu-se no início de abril de 2010, 5 meses após a sua chegada e após a abertura do CNRLI, tendo parido 2 crias inviáveis de tamanho diminuto que acabam por morrer 15 dias após o parto. Nos dois anos subsequentes (2011 e 2012), Azahar sofreu de disfunções no parto que levam à morte das crias produzidas, obrigando a equipa do CNRLI a realizar duas cesareanas consecutivas em colaboração com o Cirurgião Veterinário Rui Bernardino (Jardim Zoológico de Lisboa) para retirar as crias mortas e salvar a vida desta fêmea. Devido ao seu historial clínico, considerou-se que Azahar não teria actualmente capacidade para parir adequadamente uma ninhada, considerando-se ser provável que sofresse de disfunção uterina incompatível com a reprodução natural.

Assim sendo, resolveu o Programa de Conservação Ex Situ do Lince Ibérico retirar a Azahar do plantel reprodutor. Uma vez que esta fêmea pode vir a ser exposta ao público noutra instituição, decidiu-se castrar a Azahar antes de retirá-la do Programa. Por ser uma fêmea fundadora do Programa que não teve oportunidade de deixar descendência, decidiu-se dar-lhe uma última oportunidade reprodutiva – foi emparelhada com o Foco no CNRLI - e tentar a recolha dos embriões produzidos naturalmente no processo de castração. Novamente com a ajuda do Dr. Rui Bernardino e com a participação da Dr. Katarina Jewgenow (Instituto Leibniz de Investigação Zoológica e de Vida Selvagem (IZW) / Berlim) e do Dr. Eduardo Roldán (Museu Natural de Ciências Naturais / Madrid), realizou-se a cirurgia e o processo de colheita de embriões no passado dia 1 de fevereiro.

A intervenção cirúrgica consistiu numa ovariohisterectomia (retirada conjunta de útero e ovários), tendo sido feita a recolha de embriões em ambiente laboratorial, aumentando a taxa de sucesso no procedimento. Por se tratar de um animal não domesticado é importante assegurar que a ferida cirúrgica não causa desconforto nem apresenta secreções que possam estimular comportamentos de lambedura que comprometerão o procedimento no pós-operatório. Devido à impossibilidade da cooperação do animal com dispositivos de proteção de feridas, especial ênfase foi dado ao encerramento da incisão cirúrgica com a aplicação de suturas colocadas interiormente e logo absorvidas sem a existência de fios externos à pele.

Após a retirada do útero, o mesmo foi entregue à equipa da Dr. Katarina Jewgenow para o procedimento de recolha de embriões. Este processo foi conseguido através da lavagem do útero com meio de cultura celular, e assim foram recolhidos 3 embriões em fase de mórula bem desenvolvida. O número de embriões recolhidos correspondeu diretamente à evidência de 3 ovulações detetadas nos ovários. Os três embriões foram depois congelados em azoto líquido (-196ºC) através da aplicação de um método de congelação aplicado também em medicina humana e transportados pela equipa do Dr. Eduardo Roldán para o Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid, onde se encontram armazenados no Banco de Recursos Biológicos aí instalado.
Estes embriões podem agora ser descongelados e transferidos para uma fêmea de lince recetora esperando que estes se implantem, se desenvolvam e resultem em animais saudáveis. Com esta técnica foi possível preservar a informação genética da Azahar, fêmea que os resultados das análises de patologia confirmaram ter no útero defeitos graves incompatíveis com o parto, e manter a esperança de obter crias produzidas pela Azahar que continuem a propagação da sua linha genética e desta espécie criticamente em perigo de extinção