TRÊS ANOS DE PROJETO NO VALE DO GUADIANA

TRÊS ANOS DE PROJETO NO VALE DO GUADIANA ICNF/CNRLI

2018-02-01

No dia 2 de fevereiro completam-se três anos após a libertação efetiva no meio natural, do primeiro casal de linces em Mértola. A reintrodução da espécie em Portugal apresenta um balanço positivo, mas o objetivo de conseguir uma população viável e estável, também previsto no Plano de Ação para a Conservação do Lince-Ibérico (Lynx pardinus) em Portugal (Despacho nº 8762/2015), só será conseguido a médio prazo e após sucessivas libertações que reforcem a presença em Portugal de um dos carnívoros mais ameaçados da Europa.

Dois linces, uma fêmea e um macho de nomes Jacarandá e Katmandú, foram transportados a 16 de dezembro de 2014 até Mértola onde, num evento público, foram libertados num cercado de adaptação. Este cercado permitiu aos dois animais aclimatarem-se e estabelecerem uma relação entre si, em plena época de cio da fêmea. No entanto, foi apenas no dia 2 de fevereiro de 2015, que as portas do cercado foram abertas e os animais puderam sair para o meio natural, vindo a estabilizar territórios nas imediações. Com esta libertação e as seguintes, num total de 27 animais libertados até 2017, foi tecnicamente iniciado o processo de reintrodução. A evolução do número de exemplares na natureza em Portugal e noutros locais da Península ibérica está a inverter a tendência regressiva da espécie que se acentuou nas últimas décadas do século XX. O risco de extinção do lince-ibérico é hoje considerado, globalmente, menor e a União Internacional para a Conservação da Natureza reavaliou, em 2015, o estatuto da espécie classificando-a como “Em Perigo”.
Dos linces reintroduzidos, uma fêmea morreu em março de 2015, envenenada, e outra em 2016 com uma doença infecciosa de felinos. Já em 2017, morreu o primeiro macho jovem atropelado e a coleira emissora de uma terceira fêmea – Nara - apareceu cortada a sul da área de reintrodução, ainda que o corpo do animal nunca tenha chegado a ser encontrado pelas autoridades. Em nenhum dos processos em que houve investigação judicial se chegou a conclusão sobre as autorias dos actos ilegais mas a mortalidade, no conjunto dos três anos, é considerada baixa.
Em termos de reprodução o saldo é bastante positivo tendo em conta que os animais, quando são libertados, têm cerca de um ano de idade, sendo por isso ainda imaturos. Já nasceram um total de 16 crias no Vale do Guadiana e através de monitorização de câmaras fotográficas há informação de que se encontram saudáveis e, a maioria, já independentes dos progenitores. Há ainda a assinalar a presença de dois linces que dispersaram da área de Doñana até ao Vale do Guadiana, comprovando a conexão efetiva com Espanha. O seguimento dos linces é um processo feito, à distância, por técnicos e vigilantes da natureza determinando localizações por um sistema de GSM ou por um sistema rádio com antenas portáteis. Atualmente, os territórios de lince, quase todos adjacentes entre si, abrangem cerca de 125 km2 e distribuem-se em três
concelhos, Mértola, Serpa e Castro Verde. Celebrando a presença de fêmeas reprodutoras num território mais alargado no Alentejo, a habitual votação dos nomes para linces, dinamizada pelo ICNF, extravasou, este ano, as escolas em Mértola e está aberta também a todos os cidadãos na página do lince no portal do ICNF.
O sucesso da reintrodução de lince está muito ligado à elevada abundância de coelho-bravo nesta área a qual é cuidadosamente aferida em censos sazonais que o ICNF coordena e que contam com a participação de várias entidades como a Associação Iberlinx e a Liga para a Proteção da Natureza. Fundamental tem sido também a colaboração de proprietários e zonas de caça com os quais se têm estabelecido contratos de colaboração.
O projeto “Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal (LIFE+10/NAT/ES/000570 - Iberlince) co-financiado pela Comissão Europeia e que reúne 22 parceiros, dos quais 5 são portugueses – ICNF, Associação Iberlinx, EDIA, Infraestruturas de Portugal e Câmara Municipal de Moura - tem permitido levar a cabo ações de maneio do habitat. Não foram estabelecidas quaisquer restrições adicionais às práticas cinegéticas, turísticas ou outras, pela presença desta espécie. Os atores locais, numa auscultação realizada entre 2012 e 2014, apontaram o turismo como uma das maiores vantagens que a reintrodução poderia trazer e referiram a distinção territorial que a sua região pode obter, contando com a presença única desta espécie rara.
Está prevista, em 2018, a libertação de 6 animais para reforçar a população do Vale do Guadiana. Um dos machos, denominado Oregão pela equipa de reprodução em cativeiro, foi libertado no passado dia 23. Razões de ordem técnica e de gestão do Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, determinaram a rápida decisão de libertação. A este exemplar, seguir-se-ão, até março, soltas de 5 linces provenientes dos centros de reprodução de La Olivilla e de Granadilla, em Espanha, e do CNRLI, em Silves, potenciando a variabilidade genética nas populações selvagens futuras.
A reintrodução é um processo com pleno resultado atingido apenas a médio prazo, que prosseguirá nos próximos anos até se atingir uma estabilidade da população inicial e de acordo com uma estreita cooperação local, nacional, ibérica e transnacional. Prepara-se, este ano, uma nova candidatura conjunta ao programa LIFE que dará seguimento ao atual projeto Iberlince que terminará em junho de 2018.

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