EXEMPLAR DE LINCE-IBÉRICO ATROPELADO

2018-04-20

Niassa, uma fêmea de lince-ibérico de dois anos de idade, foi, no dia 14 de abril, encontrada morta, com sinais de atropelamento, na A22 próximo de Olhão.

Nascida no Centro de Reprodução em Cativeiro em Silves, tinha sido libertada na área de reintrodução do Vale do Guadiana, em 2017, onde outros linces estabilizaram já território. O animal realizou vários movimentos percorrendo uma área alargada como é habitual na fase exploratória a seguir à libertação e antes de estabilizar um território. Desde o final do verão de 2017 que Niassa deixou de ser detetada na área de reintrodução quer por emissão de sinal, quer por foto-armadilhagem, sendo dada como desaparecida. Foi encontrada morta na manhã de sábado passado por um técnico do ICNF, no separador central da A22 no sentido Tavira-Olhão junto a uma área de matos. A fêmea apresentava boa condição corporal com um peso de 11kg mas sem vestígios de gestação.

O procedimento de necrópsia do animal e realização de análises complementares que se seguirão poderão trazer mais informação às circunstâncias em que sucedeu esta baixa na população de lince. À semelhança de outros linces imaturos, Niassa estaria em fase de dispersão como é comum verificar-se nos exemplares subadultos dos grandes carnívoros selvagens, que outrora apresentavam uma distribuição histórica alargada na Península ibérica. O fim da dispersão de cada indivíduo depende de vários factores, como encontrar uma boa abundância de coelho bravo, áreas tranquilas de refúgio e também indícios de presença de outros congéneres. Neste caso, a jovem lince terá atravessado áreas de habitat desfavorável, sendo impelida a transpor estradas que acabam por ser uma das principais causas de mortalidade da espécie, em particular as redes viárias de grande velocidade, no caso, as auto-estradas. O seu efeito negativo pode ser atenuado por viadutos, passagens inferiores, vedações ou sinalização específica, em particular nos locais identificados como “pontos negros”. A dispersão a longas distâncias permite, por seu lado, a conexão genética entre diferentes populações naturais o que é fundamental para a viabilidade da espécie a longo prazo. Este foi o quarto atropelamento de lince-ibérico em território nacional desde o início do processo de reintrodução, nos últimos três anos, sendo que apenas dois dos animais tinham sido libertados no Guadiana. A mortalidade verificada encontra-se abaixo dos valores esperados mas a desfragmentação do habitat através da permeabilização de infra-estruturas tem sido uma prioridade do projecto LIFE+ Iberlince “Recuperação da área de distribuição histórica de lince ibérico em Espanha e Portugal” co-financiado pela Comissão Europeia.

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