Nascida no Centro de Reprodução em Cativeiro em Silves, tinha sido libertada na área de reintrodução do Vale do Guadiana, em 2017, onde outros linces estabilizaram já território. O animal realizou vários movimentos percorrendo uma área alargada como é habitual na fase exploratória a seguir à libertação e antes de estabilizar um território. Desde o final do verão de 2017 que Niassa deixou de ser detetada na área de reintrodução quer por emissão de sinal, quer por foto-armadilhagem, sendo dada como desaparecida. Foi encontrada morta na manhã de sábado passado por um técnico do ICNF, no separador central da A22 no sentido Tavira-Olhão junto a uma área de matos. A fêmea apresentava boa condição corporal com um peso de 11kg mas sem vestígios de gestação.
O procedimento de necrópsia do animal e realização de análises complementares que se seguirão poderão trazer mais informação às circunstâncias em que sucedeu esta baixa na população de lince. À semelhança de outros linces imaturos, Niassa estaria em fase de dispersão como é comum verificar-se nos exemplares subadultos dos grandes carnívoros selvagens, que outrora apresentavam uma distribuição histórica alargada na Península ibérica. O fim da dispersão de cada indivíduo depende de vários factores, como encontrar uma boa abundância de coelho bravo, áreas tranquilas de refúgio e também indícios de presença de outros congéneres. Neste caso, a jovem lince terá atravessado áreas de habitat desfavorável, sendo impelida a transpor estradas que acabam por ser uma das principais causas de mortalidade da espécie, em particular as redes viárias de grande velocidade, no caso, as auto-estradas. O seu efeito negativo pode ser atenuado por viadutos, passagens inferiores, vedações ou sinalização específica, em particular nos locais identificados como “pontos negros”. A dispersão a longas distâncias permite, por seu lado, a conexão genética entre diferentes populações naturais o que é fundamental para a viabilidade da espécie a longo prazo. Este foi o quarto atropelamento de lince-ibérico em território nacional desde o início do processo de reintrodução, nos últimos três anos, sendo que apenas dois dos animais tinham sido libertados no Guadiana. A mortalidade verificada encontra-se abaixo dos valores esperados mas a desfragmentação do habitat através da permeabilização de infra-estruturas tem sido uma prioridade do projecto LIFE+ Iberlince “Recuperação da área de distribuição histórica de lince ibérico em Espanha e Portugal” co-financiado pela Comissão Europeia.
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